José Renato Pécora morreu no início da madrugada desta segunda-feira, 2 de maio, em São Paulo.
"As estrelas do Teatro preenchem mais o céu do que iluminam a Terra" digo isso pois sinto cada vez mais que o teatro popularizou tanto que seus artistas estão mais preocupados com a fama do que com o Teatro verdadeiramente. Quem tanto lutou pela História do Teatro está preenchendo o céu e deixando palcos vazios. Receio que no futuro o palco seja utilizado por artistas de momento... Celebridades que não lutam pelo Teatro. Por isso é que devemos ter certeza de que o Teatro Brasileiro está de Luto.
Sua Trajetória
Renato José Pécora (São Paulo SP 1926). Diretor. Fundador e idealizador do Teatro de Arena, diretor do espetáculo Eles Não Usam Black-Tie, considerado divisor de águas, que introduz o nacionalismo no teatro brasileiro.
Ainda como aluno da primeira turma da Escola de Arte Dramática - EAD, em São Paulo, onde se forma em 1950, José Renato sugere o formato em arena para um espetáculo. O professor e crítico Décio de Almeida Prado oferece suporte teórico para a idéia apresentando-o ao estudo pioneiro de Margot Jones, Theater in The Round. José Renato e Décio escrevem, em colaboração com Geraldo Mateus Torloni, uma justificativa teórica para o projeto, apresentada como tese no 1º Congresso Brasileiro de Teatro, no Rio de Janeiro, em 1951.
No intuito de empenhar-se na experimentação do formato arena, articula uma companhia que a realize, fundando o Teatro de Arena de São Paulo, em 1953. A primeira montagem, sob sua direção, ocorre no Museu de Arte de São Paulo - Masp (ainda na Rua Sete de Abril), com Esta Noite É Nossa, de Stafford Dickens. O pequeno repertório formado nos anos subseqüentes apresenta-se em fábricas, clubes e escolas, até ser adaptada a sala que é sede do empreendimento, na Rua Teodoro Baima, em 1955.
Suas primeiras direções são exercícios, destinados ao encontro de uma estética em arena. Após a fusão com o Teatro Paulista do Estudante, TPE, o Arena aumenta seu contingente e ambiciona montagens mais relevantes, como Escola de Maridos, de Molière, em 1955. José Renato dirige Eles Não Usam Black-Tie, em 1958, lançando o primeiro texto de Gianfrancesco Guarnieri, germe do futuro Seminário de Dramaturgia. São direções suas, ainda no Arena, Revolução na América do Sul, de Augusto Boal, em 1960; e Os Fuzis da Sra. Carrar, de Bertolt Brecht, em 1962.
José Renato cumpre um estágio na França junto ao Théâtre National Populaire, TNP, de Jean Villar, retornando ao final de 1959, quando o Arena excursiona no Rio de Janeiro. Nesta cidade é contratado para dirigir o Teatro Nacional de Comédia - TNC, agora também inclinado no rumo da nacionalização do repertório, ali estreando Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, em 1962, cuja direção garante a ele o Prêmio da Associação de Críticos do Rio de Janeiro. No mesmo conjunto, é o diretor de O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, em 1963. Seguem-se outras produções, entre elas O Círculo de Giz Caucaziano, de Bertolt Brecht, e As Aventuras de Ripió Lacraia, de Chico de Assis, em 1963, levadas em repertório para todas as capitais do país. Em 1964, inaugura o Teatro Ruth Escobar, com A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht.
Após o golpe militar, vai para Curitiba, onde ajuda a fundar o Teatro de Bolso, com a encenação de O Noviço, de Martins Pena, 1965.
Com a extinção do TNC, Renato torna-se um diretor de produções isoladas. Em 1979 encena Rasga Coração, obra do amigo de longa data Oduvaldo Vianna Filho, um de seus maiores sucessos de crítica e público, num momento marcado pelo teatro de resistência.
Em 1970 ingressa como professor de direção teatral na Escola de Teatro da Fefierj, atividade que exerce até 1996, ao se aposentar.
Dedica-se também à dramaturgia, sendo de sua autoria: Plantas Rasteiras, prêmio de melhor autor da Academia Paulista de Letras; Escrever sobre Mulheres, encenada no Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, 1951, e no Teatro de Arena, 1956; Ternura, encenada na TV Record, São Paulo, 1957; Visita de Pêsames; O Aniversário; Ano Bom em Família; Alguém Dormiu com Maria; sendo co-autor, juntamente com Paulo Pontes e Milton Moraes, de Um Edifício Chamado 200. Este último, de 1972, é um sucesso de bilheteria, juntamente com Alegro Desbum, de Oduvaldo Vianna Filho e Armando Costa, 1973; Baixa Sociedade, de Juca de Oliveira, 1979; e Motel Paradiso, também de Juca de Oliveira, 1982.
Sua encenação de A Ópera dos Três Vinténs merece a seguinte avaliação do crítico Décio de Almeida Prado: "O caráter paródico do texto fá-lo oscilar permanentemente entre o sinistro e o cômico. A encenação de José Renato resolve esta duplicidade de tom sempre a favor do burlesco. (...) O desempenho dos atores, de resto, é pouco estilizado, quase realista, não tirando partido das sugestões plásticas do expressionismo alemão. Estas falhas são todavia compensadas pela excelente concepção geral do espetáculo, fundadas sobre os cenários e figurinos apropriadamente carregados de Flávio Império".1
Seu último trabalho depois de afastado dos palcos por quase 56 anos foi “12 homens e uma sentença” e marcou presença em diversas edições do FETESP (Festival Estudantil do Teatro do estado de São Paulo) realizado pelo Conservatório de Tatuí.
À José Renato
Meus APLAUSOS!!!!
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