quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Quando o circo invade o teatro e tudo é apenas ilusão...

Quarta-feira, 12 de outubro, dia em que o Teatro Escola Macunaíma de São Paulo apresenta com a “Cia Escanfrandristas do Absurdo” um grupo que há quatro anos é formada por alunos-atores da Escola traz para o XXIV Festival Estudantil do Teatro do Estado de São Paulo o espetáculo que faz parte da modalidade “Escola de Teatro” chamado “Os Últimos Dias de Solidão de Robinson Crusoé” com direção de Wanderley Marins.

Ao iniciar o espetáculo a proposta de usar a linguagem circense remete um pouco a belíssima obra de Carlos Alberto Sofredini “Vem buscar-me que ainda sou teu”, mas nos primeiros minutos do espetáculo o que me remetia a Sofredini, que tanto admiro, foi extraído com interpretação equivocada e direção poluída com excessos de informações. Quando se utiliza do circo para transmitir a uma linguagem popular e que visa à diversão e o entretenimento dos espectadores causa no público angustia e desespero de arregalar os olhos com tamanha barbaridade, que pode ser vista por quase 400 pessoas que lotaram o Teatro Procópio Ferreira de Tatuí.

Jérôme Savary, autor do espetáculo, de origem argentina se tornou com o passar dos anos um nome no cenário francês se tornando grande democratizador do teatro musical na França, reunindo e misturando ópera, opereta e comédia musical.

O espetáculo que no dia das crianças se apresentou no Procópio Ferreira não é Ópera, nem OPERETA, enfim, podemos classificar como TEATRO MUSICAL, pois combina música, canções, dança e diálogos falados, eu disse combina no que diz respeito: tem elementos, pois nesta combinação feita pela direção do espetáculo nada ali combina tudo é muito poluído, as piadas são forçadas e o enredo mal desenvolvido.

Escola de Teatro!

Estou falando de um grupo de pessoas que almejam no futuro, ingressar na carreira artística e agora o que me preocupa é saber se as Escolas tem condições de possibilitar o desejo de seus alunos ou apenas ludibriam pessoas em busca de seus 15 minutos de...

Não sei!!!

O que sei, é que, muito cuidado ao ir assistir um espetáculo do Festival, pois o que você viu na terça-feira pode ser ruim, mais o que você viu na quarta-feira é pior ainda. 

Espero que o XXIV Fetesp encontre nas próximas apresentações espetáculos que realmente sejam dignos deste Festival que comemora 35 anos das Atividades Cênicas mantidas pelo Conservatório no município de Tatuí.

Um comentário:

  1. O título mais apropriado para a o seu comentário seria “Quando o circo invade o teatro e tudo é apenas alusão...”
    Sim porque o verdadeiro tema de Jérôme Savary, é a brincadeira com os vários gêneros e subgêneros que acabam sendo mesclados em um mosaico musical recheado de referências.
    Fico extremamente feliz quando a primeira referência percebida pelo seu agudo comentário é da obra de Carlos Alberto Soffredini “Vem buscar-me que ainda sou teu”, pois essa peça é o resultado da pesquisa desenvolvida por este autor e pelo grupo Mambembe, grupo do qual fiz parte – pesquisando o circo teatro na periferia de São Paulo. Fui parceiro de pesquisa de Soffredini, e seu parceiro quando sua dramaturgia justamente teve reconhecimento nacional a partir das montagens de “NA CARRÊRA DO DIVINO” e “VEM BUSCAR-ME QUE AINDA SOU TEU”, ambas encenadas pela primeira vez em 1979, por Paulo Betti e Grupo Pessoal do Victor e Iacov Hillel e Grupo Mambembe de Teatro, respectivamente.
    Soffredini conquistou os prêmios MAMBEMBE / Funarte / Inacem e APCA Associação Paulista de Críticos de Arte de melhor autor.
    Eu conquistei os mesmos prêmios em relação a música, pois sou autor da música original de ambas as peças.
    Como ator fiz o personagem Campônio, nesta excelente releitura de “Coração Materno”.
    Como artista acho que o público sempre pode discordar do que fazemos: é um direito.
    Como articulista em seu Blog pode falar o que quiser...
    Mas quero ponderar algumas questões:
    ENREDO MAL DESENVOLVIDO : sim, de propósito por JÉRÔME SAVARY,
    Este texto é produto de uma criação coletiva desenvolvida por Savary em um espetáculo que demorava mais de três horas. Savary esculhamba com todas as estruturas de espetáculo, daí ser desconcertante. É pura desconstrução, em nome da ironia, da diversão e da inteligência. É poluído assumidamente.
    Em relação a reação do público em geral, não a dos digníssimos detentores de todas as culturas teatrais e circenses..., foi absolutamente normal, aliás foi calorosa.
    Em relação a Escolas de Teatro, tenho mais de três décadas de experiência nas mais renomadas escolas do Estado de São Paulo, ou seja EAD/ECA/USP, Departamento de Artes Cênicas da UNICAMP e Teatro Escola Macunaíma. Sempre com muita seriedade.
    Sempre buscando o melhor para os alunos.
    Apesar de uma parte do elenco ter desenvolvido alguns trabalhos em comum, o grupo atual foi formado no semestre passado, e com certeza carrega muitas diferenças como qualquer grupo heterogêneo. Muitas arestas precisam ser aparadas, mas é um grupo que está buscando superar essas dificuldades com muito trabalho. A primeira delas foi deparar com esta proposta nada fácil que é criar personagens a partir de esboços do roteiro de Savary. Como é um grupo que optou por trabalhar uma linguagem diferenciada, distante de uma dramatugia comportada, o saldo foi bem positivo. DIGNO.
    Assisti a dois espetáculos encenados por Savary, “OS MONSTROS” , com texto de Denoy de Oliveira, música de Geni Marcondes, no elenco nomes como Raul Cortez, Ruth Escobar, Luiz Arutim, etc. “CANTIGAS DA DESGRAÇA” com Savary e sua trupe, e a reação da platéia sempre foi desconcertante, incômoda e sempre polêmica.
    Não é a favor da unanimidade. Prefere a discussão, a reflexão.
    Eu também.

    WANDERLEY MARTINS
    wandecomartins@gmail.com

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