quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Matéria do Jornal O Progresso de Tatuí - edição de 23 de dezembro de 2012



Conto de Natal Tatuiano une expressões
Apresentação realizada na Pça. da Matriz foi marcada por confraternização cultural
Poucas manifestações artísticas conseguem reunir num mesmo palco expressões culturais diversificadas. Especialmente, se essa manifestação se dá “ar livre”, muito próxima ao público e trata de um tema universal: o nascimento de Jesus Cristo.
Apresentado pelo Núcleo Experimental Cênico Falsa Modéstia, na noite de domingo, 16, o “Conto de Natal Tatuiano” conseguiu esse feito, conforme o diretor do espetáculo, Rogério Vianna.
“O objetivo foi apresentado, que é a confraternização de diversas expressões culturais da cidade”, iniciou.
Vianna explicou que a peça é “costurada” com elementos da cultura tatuiana. Os destaques vão para a catira, a seresta, os corais, os grupos de música e de teatro do Conservatório Dramático e Musical “Carlos de Campos” e dançarinos. Até mesmo artistas circenses participam da “confraternização cultural”.
A resposta do público veio na forma de aplausos, sendo avaliada de maneira positiva pelo diretor. Vianna destacou que o espetáculo é um presente para a população, uma vez que é encenado “num momento de confraternizações”.
O “Conto de Natal Tatuiano” é apresentado num período especial do ano. Além do próprio tema, que mexe com o imaginário e o sentimento dos espectadores, Vianna afirmou que a peça coincide com o momento da “renovação da fé”. Sentimentos que, durante o ano, as pessoas vão “deixando de lado”.
O espetáculo contou o nascimento de Jesus Cris­to e trouxe, no elenco, mais de 160 pessoas. São artistas das mais variadas expressões. “Eles lidaram facilmente com o tema natalino”, disse Vianna.
Como exemplo, o diretor citou o cururu, mani­festação cultural em que o “coração” é o improviso. “Se eu chego um pouco antes e digo: ‘Agora é o momento do nascimento’, eles improvisam em cima disso”, comentou.
Segundo ele, a peça toda é montada de maneira quase intuitiva. “Aliás, ninguém sabe como serão as cenas sequenciais. Existe um roteiro que nós seguimos, mas a gente não sabe qual é a esquete que vai ser apresentada”, comentou.
O fator surpresa é considerado um presente também para os atores, não só para o público. Vianna explicou que esta é a dinâmica do espetáculo de rua. “Nós utilizamos o mesmo formato nas outras praças”, comentou.
Nos anos anteriores, “O Conto de Natal Tatuiano” era encenado em três espaços (praça Paulo Setúbal, Martinho Guedes e Matriz). Neste ano, foi encenado somente na Matriz.
As interpretações aconteceram nos espaços de passeio e nas laterais do coreto, começando com a anunciação do anjo Gabriel a Maria (de que ela daria a luz um filho de Deus), prosseguindo com a perseguição de Herodes ao menino Jesus e encerrando com o nascimento do Salvador e a entrega dos presentes feita pelos três reis magos (Belchior, Baltazar e Gaspar).
Maria Vasconcelos vivenciou de perto o espetáculo e os momentos do nascimento do menino Jesus. Ela participou da encenação com o coral do projeto Envelhecer com Qualidade de Vida, do Fusstat (Fundo Social de Solida­riedade de Tatuí). “Isso aqui é muito bonito”, iniciou a artista veterana.
Maria integra o elenco de “O Conto de Natal Tatuiano” há anos e disse que ficou extremamente feliz em poder encenar a história do nascimento do menino Jesus.
Quem também disse que ficou emocionado com o resultado da peça foi o aposentado Geraldo Sabalauskas, outra voz do coral. “É uma benção que ajuda a educar cada um de nós. É algo que incentiva a gente a praticar o bem”, destacou.
O poeta Odimar Martins classificou a experiência de integrar o elenco como interessante. De acordo com ele, é sempre positivo levar a poesia, o canto e as tradições da região para próximo do público.
“Declamei um poema caipira, e acho que é im­portante valorizar isso. As pessoas não devem ter vergonha de ser caipira. Têm que ter orgulho da nossa identidade caipira”.
Martins citou que a presença das manifesta­ções culturais ajuda a valorizar o município. “É isso que nos orgulha: humildade, simplicidade. São características que a gente deve guardar e importantes em qualquer evento”, afirmou.
Para o cururueiro Zacarias Camargo, a presença da trova com improviso em versos rimados em carreiras só engrandece a encenação de Natal.
“É uma cultura aqui, de Tatuí mesmo. Tem que ser mostrada. Eu acho bom, o que é nosso tem que ser mostrado mesmo. Não é difícil falar do Natal por meio do cururu. A gente dá uma travadinha, mas cururu pode falar de qualquer coisa”.
O ator Leonardo Carvalho, que encarnou José no espetáculo, classificou a peça como uma confraternização. De acordo com ele, o movimento dos artistas mostra para a população tudo que Tatuí tem para oferecer. “O papel é legal, mas o mais importante é conseguir juntar todos os amigos”.
Além de atores veteranos, como Carvalho, “O Conto de Natal Tatuiano” teve participação de artistas não tão acostumados à dramatização, mas já familiarizados com os palcos.
Caso da seresteira Maria Inês de Camargo. “Foi uma experiência totalmente diferente, maravilhosa e gratificante”, avaliou.
Maria Inês disse, ainda, que sempre se surpreende com o resultado e os rumos que a peça vai tomando ao longo da encenação. Este é o quinto ano em que a seresteira participa do espetáculo.
“A união de artistas diferentes torna isso mara­vilhoso”, afirmou. Segundo a cantora, a diferença entre a dramatização e a seresta é grande. “Mas tudo se encaixa no mesmo trabalho”.
A iniciativa é, basicamente, um resgate da cultura. É como classificou Rogério Iamaguchi, ator que integra o Núcleo Experimental Cênico Falsa Modéstia. “É uma forma diferente de contar o Natal, aproximar o Natal da cultura tatuiana”.
Para isso, o grupo artístico faz uso de movimen­tos particulares da cultura tatuiana, como o Cordão Folclórico Tatuiense, o Cordão dos Bichos. “Usamos algo tradicional e fazemos esse resgate, esse casamento com o conto”, comentou.
O resultado da mistura rende ao público um espetáculo ímpar, como avalia a atriz Fernanda Xavier. Ela interpretou Maria, a mãe de Jesus Cristo, pela terceira vez.
Ela disse que o centro do espetáculo não é o Salvador, mas a família. Para ela, “O Conto de Natal Tatuiano” apresenta o “que de mais belo Tatuí tem”.
Juliana Guidetti da Silva, mãe do bebê Leo Guidetti de Souza (de cinco meses), acompanhou a encenação por conta do cuidado com o filho e pela beleza do espetáculo.
Segundo ela, o conto “representa bem a cultura do interior”. “Por ele (o filho) estar nesse ano, foi uma emoção muito maior”, disse. Leo vivenciou Jesus Cristo e é filho de Juliana com Marcel Guidetti de Souza.
A presença de várias expressões culturais no espetáculo foi fruto de pesquisas feitas pelos artistas do próprio núcleo. Ana Paula Arruda e Darlison Barros, por exemplo, aplicaram técnicas circenses, com a pirofagia (arte de dominar o fogo).
“Pensamos em fazer uma coisa diferente e trazer essa linguagem, já que é um apanhado cultural”.
A peça natalina começou a ser encenada em 2005, na Amart (Associação dos Artistas Plásticos de Tatuí e Região). Naquele mesmo ano, ganhou as ruas do município, escolas e teve apresentações na Igreja Matriz de Capela do Alto.

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