UMA SEMANA DE BONDADE
Eu e Donny Barros estivemos esse fim de semana em São Paulo para nos despedirmos de uma amiga (Iara Vianna), parabenizarmos três outros amigos (Camila Clemente, Neide e Xande) e curtir um pouquinho da Virada Cultural.
No sábado ainda sem destino certo, fomos parar no Trianom-MASP, onde uma fanfarra ensaiava para a Virada que iniciaria mais tarde. Saímos do Trianom e nos dirigimos ao MASP que estava lotado de gente, muita gente trocando suas figurinhas da copa, uma cultura atualmente pouco exercitada, mas que, por ser da Copa do Mundo faz o pessoal se reunir todo sábado por ali com o intuito de trocar seus cromos repetidos. Mas Eu e Donny, tínhamos outro objetivo, um conhecimento Cultural.
Na busca pela Arte, estávamos no local certo, o MASP, primeiramente para conhecermos o Acervo Fixo desse, que só o prédio já é curiosidade para muitos arquitetos, e lá fomos.
Van Gogh, Edmond Manet, Rodin, Picasso, Portinari, enfim, muitas obras de arte que abrilhantam as vistas dos amantes da Arte. Acontece que, quando nos deslocamos para a Galeria Horácio Lafer, 1º andar do MASP, uma exposição nos deixou encantados.
As colagens, obras-primas do surrealismo, são um dos bem guardados segredos da arte do século XX. A série Une Semaine de Bonté - Uma Semana de Bondade – foi mostrada pela primeira vez em Madri, em 1936, e depois ficou guardada até 2008 quando iniciou um percurso por alguns museus antes de chegar ao MASP.
Trata-se de uma exposição inédita na América com as obras completas das 184 colagens criadas pelo artista em1933. A coleção é divida pelos dias da semana e deu origem a cinco livros lançados em 1934 (os três últimos dias – Quinta-feira, Sexta e Sábado - reunidos em um único por não ter a coleção alcançada às expectativas comercias).
Trata-se de uma exposição inédita na América com as obras completas das 184 colagens criadas pelo artista em
- Une Semaine de Bonté - Uma Semana de Bondade -
Nas colagens Ernst afastou-se da concepção bíblica, criando seu próprio Gênesis: o Domingo surrealista é recheado de orgias, violência, blasfêmia e morte, primeiro contraponto significativo ao “dia de descanso”. Homens com cabeças de leão, símbolo do poder, é ironia recorrente nas 35 colagens intituladas O Leão de Belfort, na qual as obras são individualizas por sequência numérica, recurso utilizado em todos os dias da coleção, além de obedecerem a um elemento chave, neste caso, a “Lama”.
O caráter mítico de Édipo é abordado sob o elemento “Sangue” nas 29 colagens de Quarta-feira, batizada com o nome do mito grego. O episódio em que Édipo teve o pé ferido por seu próprio pai, seu reencontro fatídico no qual assassina seu progenitor e posteriormente o enigma proposto pela Esfinge, são simbolizados por homens com cabeças de pássaros nas mais diversas situações, num triste sarcasmo que escancara o eterno receio da tragédia por vezes imposto pelo destino, inerente às escolhas.
A Quinta-feira é subdividida em O riso do galo, que conta com 16 colagens, e A Ilha de Páscoa, formada por outras dez. Ambas sob o elemento “Escuridão” abordam as diferentes formas de poder: na primeira, o galo gaulês, símbolo do estado francês, é presente em todas as imagens, inclusive como parte do corpo dos protagonistas da cena.
Representada por Um poema visível, Dois poemas visíveis e Três poemas visíveis (compostos por seis, quatro e duas colagens, respectivamente), a Sexta-feira obedece ao elemento “Visão”. Aqui imagens emblemáticas abordam o interior, a estrutura do humano e do ambiente que o cerca: corvos, caveiras e uma série de símbolos são utilizados nas três divisões. Neste “dia” Ernst retoma o uso da colagem sintética, método utilizado por ele no início de sua carreira, no qual elementos heterogêneos são colocados sobre uma folha de papel branco.
O Sábado, último dia da semana, batizado A chave das canções, referencia ao elemento “Desconhecido”, onde toda a preocupação com a realidade é abolida. Mulheres em transe deixam suas camas e quartos para voar, cenas retratadas nas dez obras em que Max Ernst ilustra o fascínio surrealista com a histeria libertadora e inspiradora.
A narrativa da coleção se apóia unicamente na imagem, convertendo-se no ponto máximo do chamado romance-colagem e num dos maiores expoentes do surrealismo. A técnica empregada por Ernst nesta coleção cuidou para que os pontos de união, onde usou a colagem, fossem imperceptíveis com o objetivo de que a ilusão ótica criada pela colagem fosse completa, dando lugar a uma “nova” realidade.
Com este trabalho, Max Ernst rompeu as fronteiras entre gêneros e técnicas e transformou Uma semana de bondade em um dos temas principais do surrealismo - e ataca reservadamente àqueles que consideravam, naquela ocasião, este um movimento essencialmente literário.
A narrativa da coleção se apóia unicamente na imagem, convertendo-se no ponto máximo do chamado romance-colagem e num dos maiores expoentes do surrealismo. A técnica empregada por Ernst nesta coleção cuidou para que os pontos de união, onde usou a colagem, fossem imperceptíveis com o objetivo de que a ilusão ótica criada pela colagem fosse completa, dando lugar a uma “nova” realidade.
Com este trabalho, Max Ernst rompeu as fronteiras entre gêneros e técnicas e transformou Uma semana de bondade em um dos temas principais do surrealismo - e ataca reservadamente àqueles que consideravam, naquela ocasião, este um movimento essencialmente literário.
Terceiro romance-colagem de Ernst - que já havia produzido La femme 100 têtes (1929) e Rêve d’une petite fille qui voulut entrer au Carmel (1930) -, Uma semana de bondade foi criada em 1933, auge do movimento surrealista, durante uma viagem de três semanas à Itália, precisamente ao Castelo de Vigoleno, cidade medieval da Emilia-Romagna. Recortando uma série de imagens de livros, jornais, romances e revistas populares na Europa desde 1850, o artista transformou entretenimento em uma ação de alerta e revolta contra os valores da época.
No entanto, o processo de “colagem” da série já começou bem antes, pela escolha do nome: La semaine de la bonté foi uma associação de ajuda mútua fundada em 1927 para promover o bem-estar social
Sobre o artista
Max Ernst (2 de abril de 1891, Brühl, Alemanha — 1 de abril de 1976, Paris, França) é provavelmente um dos poucos artistas que reinventou a si mesmo ao longo de toda sua vida. Ao lado de Picasso, fez parte de alguns dos grupos e movimentos de vanguarda mais importantes do século 20. Porém o que caracterizou em todo momento sua trajetória foi a capacidade de seguir adiante, sempre à frente destes movimentos, convertendo-se assim em referência e influência não só para seus contemporâneos mas também para os artistas atuais, entre eles artistas díspares como Cindy Sherman, Neo Rauch e Julie Nord.
A capacidade de Max Ernst criar um universo e um olhar próprio, diferente e singular, o transforma em um dos artistas de referência no século 20 e também em um dos mais complexos e mutáveis. Dadaísta, surrealista, poliglota e ávido leitor, Ernst desenvolveu um universo absolutamente particular e pessoal. Por conta de sua deslumbrante e afiada inteligência, além da sensibilidade e senso de humor ácido e irônico, é possível encontrar influências de Ernst em toda a história do século. Essa mistura de curiosidade e constância que encaixa o discurso do artista é a base sobre a qual foi construído o olhar de Ernst: uma busca incansável, onde, como diziam os sábios gregos, é muito mais importante o caminho que a chegada.
Max Ernst – Uma semana de bondade
MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Av. Paulista, 1578. Informações o público: Telefone (11) 3251-5644.
Acesso a deficientes. Estacionamento ao lado, na Av. Paulista: R$ 15,00.
MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Av. Paulista, 1578. Informações o público: Telefone (11) 3251-5644.
Acesso a deficientes. Estacionamento ao lado, na Av. Paulista: R$ 15,00.
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